domingo, 1 de abril de 2012

Sequestro

     Ela acordou. Já não estava mais tão escuro quanto antes, mas ela ainda era incapaz de enxergar com clareza. Olhou em volta. Não estava num simples cômodo, como pensara antes, mas em um tipo de galpão. O teto era alto e não tinha laje,e nos cantos das paredes havia alguns pequenos vultos se movendo. Morcegos.
     Suas mãos não estavam mais amarradas, mas os pés estavam. Ela tentou libertá-los, mas foi em vão. Passos. Alguém abre uma grande porta de ferro que estava no outro lado do galpão. Não conseguiu ver quem era; a claridade a estava cegando. Quando a porta foi fechada novamente, ela viu que haviam deixado algo do lado de dentro. Foi se arrastando até o local. Quando se aproximou, percebeu que era um copo e um pão. Sem prato. E sabe-se lá o que havia naquele pão. Não comeu nem bebeu.
      Depois de algumas horas, um refletor foi aceso lá dentro. Seus olhos doeram, mas depois se acostumaram. Voltou a observar o local. Havia realmente morcegos pendurados na estrutura do galpão, e não eram poucos. No chão onde estivera o dia inteiro, algumas baratas e ratos passavam correndo de um canto para o outro. Agora que podia enxergar, voltou a trabalhar no nó. Conseguiu desfazê-lo com muito sacrifício depois de muito tempo. Como não se ouvia um som nem se via nada de novo, ela deduziu que eles tinham saído. Não sabia nada sobre eles; apenas que eram homens. Eles a haviam pego na noite anterior, quando voltava do trabalho. O que não entendia era a razão de estar ali. Não tinha dinheiro nem como consegui-lo. Com medo do que pudesse ocorrer ali, ela foi até a porta e tentou abri-la. Para sua surpresa, estava destrancada. Ao sair, deparou com uma campina que parecia não ter fim. Correu aleatoriamente em busca de uma estrada, mas cansou-se antes de obter sucesso. Quando olhou para trás, viu que os sequestradores estavam de volta e já tinham visto que escapara. Ela se deitou no meio do capim seco e ficou imóvel durante intermináveis duas horas, atenta aos sons que ela quase não conseguia ouvir por causa das batidas do próprio coração que ecoavam em sua cabeça. Ao levantar-se para continuar a caminhada, quase esbarrou num deles, que apontava-lhe uma arma. O medo de morrer foi tão forte que ela começou a chorar. O homem tirou a máscara. Era seu irmão. Agora, ele ria descontroladamente. "Primeiro de Abril! Me vinguei do ano passado, bobona!"
     Ela pegou a arma, verificou que estava carregada e o matou.

Moral da história: Pegue leve nas brincadeiras. A reação pode não ser das melhores.

Beijos!