quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Folhetim - Capítulo #3: The End

      Olá, destinatários! Eu sei que demorei, mas vou cumprir minha promessa de postar pelo menos uma vez por semana.
      Devo dizer que tive grandes dificuldades para encaixar as músicas sugeridas na história, mas adorei o desafio. Não esqueçam que eu aceito sugestões 24h por dia pelo Facebook, publicamente ou inbox. Como não sei o que será de mim esta semana, não prometo nada até a próxima segunda ou terça-feira. 

      Aproveitem a terceira parte!

      ... Ele se levantou e deu alguns passos em direção à porta.
           - Essa... é outra pergunta errada.

Capítulo #3 – The End

      Annie acordou e de início não conseguiu enxergar. Ergueu-se cuidadosamente, com medo de bater a cabeça no teto ou algo do tipo. Nada. Não sabia se era uma boa ideia falar, mas suas opções estavam escassas.

      - Tem alguém aí?

      Sua voz soava rouca e oscilante. Ninguém respondeu, nem mesmo seu eco. Decidiu se levantar. Suas mãos buscaram apoio, mas ela definitivamente não esperava que um par de mãos grandes segurassem seus pulsos para ajudá-la a se levantar. Passado o susto, ela juntou toda a coragem que tinha para proferir mais uma frase.

      - Quem é?

      Sua pergunta era idiota, e ela sabia disso. Quem poderia ser se não o invasor que lhe havia apontado uma arma?

      - Seu admirador secreto.

      Ela não estava preparada para ouvir aquela voz de novo. Achara que estava, mas não estava. Os pelos de sua nuca arrepiaram-se, como se a voz dele pudesse tocá-la.

      - Você não vai me deixar sair, vai?

      Ela tentava ganhar tempo, esperando que seus olhos se adaptassem ao local, mas minutos se passaram e ela continuava sem enxergar nada.

      - Se vai me manter aqui, poderia pelo menos acender a luz?

      Ele se aproximou; ela podia sentir o frio que emanava de seu corpo.

      - Não posso. Estamos sem energia.

      - Conte outra!

      Suas mãos de gelo tocaram as dela. A voz glacial a congelou de dentro para fora.

      - Eu sequestrei você. Invadi sua casa, dei uma pancada na sua cabeça e agora você está aqui. Annie, você realmente pensa que eu estou disposto a discutir a veracidade do que eu digo, ainda mais sobre a eletricidade?

      Ele tinha razão. Annie soltou-se dele, o medo novamente roçando-lhe as paredes do estômago.

      - O que você pretende fazer comigo?

      - Essa é a questão: ainda não sei.

      - O quê? Como...

      - Não vamos nos adiantar, meu bem. Que tal conversarmos mais sobre eu e você enquanto penso?

      Annie não estava acreditando no nível de insanidade daquele momento. Tentou afastar-se mais, mas suas costas tocaram uma parede áspera. Depois de alguns segundos ouvindo apenas os sons da respiração de ambos, ela viu uma pequena faísca, que de repente de transformou numa chama singela. Pela primeira vez, ela viu o rosto dele, e por um segundo não soube se deveria ter nojo dele ou se era permitido admirar sua boa aparência e seu belo par de olhos pretos, olhos que ela tinha a impressão de conhecer. Ela olhou à sua volta, mas nada de novo lhe foi revelado; pareciam estar ali apenas ela, ele e a vela.

      - E então? – ele disse – Eu sei muito sobre você, mas creio que eu ainda seja uma incógnita, não é? Deixe-me começar.

      Ele se sentou no chão e esperou que ela fizesse o mesmo. Quando ambos estavam acomodados no carpete, ele respirou lentamente e a encarou. Um leve sorriso pareceu se formar, mas ele o conteve. Annie ficava mais apavorada a cada segundo, mas tentou não deixar transparecer. Ele começou a falar.

      - Meu nome é Victor. Nós nos conhecemos, na verdade. Cinco anos atrás, você se lembra?

      Annie esqueceu-se de seu plano de permanecer irredutível e arregalou os olhos. Victor. Ela não podia acreditar no que ouvia. Era difícil aceitar que um colega que havia – ou ela achava que havia – morrido cinco anos antes estava diante dela. Ao perceber sua reação, Victor baixou o olhar e deu de ombros.

      - Pode dizer que não se lembra. Pouco me importa, eu sei que você é a pessoa certa. Afinal, quem é que estava no meio do grupo de estudantes que me assistiu morrer? – ele fez aspas com as mãos. – Você.

      - De que você está falando? – O que ele dizia não fazia sentido; o único Victor do qual se lembrava tinha morrido num assalto enquanto andava com alguns colegas, incluindo ela mesma.

      - Já estou perdendo a paciência! – a súbita alteração em seu tom de voz fez com que ela pulasse de susto. – Será que você está tão acostumada a ver as pessoas que você conhece levarem tiros e depois sair correndo sem chamar a polícia que não lembra quem eu sou? Faça um esforço.

      - Eu nunca deixaria alguém morrer desse jeito! – Ela blefava; sabia muito bem que já deixara, uma ou duas vezes.

      - Diga o que quiser. Só não se esqueça de que eu estou no controle da situação agora.

      Ela suspirou, desapontada, e começou a procurar uma maneira de sair dali. Ele continuou falando como se ela ainda prestasse atenção.

      - Sinceramente, eu não sei o que passa pela cabeça de uma pessoa como você. Eu sou apenas um ser humano! Como você pôde? Nunca lhe ocorreu chamar ajuda? Salvar uma vida? Você nunca pensou no que poderia ter acontecido comigo? E a minha vida, meus planos? Todos arruinados, por sua culpa! Eu sei que havia outras pessoas, mas eu lembro exatamente o que aconteceu. Eu estava lá, caído no chão. Todos já estavam longe, exceto você. Você – ele enfatizou, apontando para ela com o indicador – chegou perto, olhou-me nos olhos e saiu. Por quê?

      Uma pessoa qualquer esperaria pela onda gigante de culpa prestes a vir. Annie, não. Ela era fria; tinha certeza de que aquela história triste não a comoveria. Na verdade, tudo o que ela conseguia pensar era “ainda bem que o tiro não me acertou”. Seu instinto de sobrevivência a diferenciava (e muito) dos demais. Victor ainda esperava pela resposta com um olhar ressentido.

      - Honestamente?

      - Estamos aqui para isso.

      - Eu deixei você lá porque não dou a mínima para o que acontece com a sua vida.

      Incrédulo, ele se levantou e a olhou com repulsa.

      - É mesmo? Pois bem. Agora já sei o que vou fazer com você. Vou obrigá-la a sentir.

      - Boa sorte com isso.


      Uma pontada de medo perfurou seu peito quando ela pensou no que ele faria em seguida, mas um clarão chamou sua atenção. Inicialmente, não conseguiu ver nada, mas depois seus olhos focalizaram e ela quase não acreditou no que viu.

-fim do terceiro capítulo-

E aí, o que será que ela viu?

A música da vez foi The End, do Pearl Jam, usada bem implicitamente. Ela foi sugerida pelo meu amigo e aluno Eric. Obrigada!

*lembrando que "The End" é apenas o nome do capítulo! A história continuará*

Não se esqueçam de dar a opinião de vocês e sugerir outras músicas, é claro!

Beijos!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Criticar os atos alheios não é profissão

Olá, brilhosos!

Hoje não tive tempo de escrever a terceira parte do Folhetim porque passei a tarde fazendo algumas traduções, mas fui à escola (\õ/) e escrevi um artigo de opinião que me parece muito interessante. Espero que gostem.

Criticar os atos alheios não é profissão


      O que mais tem no mundo (além de formigas) é gente, seja isso algo bom ou ruim. Na última vez que esse tipo de informação chegou a mim, disseram-me que se tratava de algo em torno de sete bilhões. SETE BILHÕES! E ainda assim, há uma camada de pessoas, bichos e plantas marginalizada funcionalmente. Por quê? A resposta está, na maioria das vezes, na janela daquela sua vizinha fofoqueira ou na mesa daquele colega de trabalho que não aprendeu quando criança que certas opiniões devem ser guardadas para si.


      Não conseguiu de identificar? Pois bem, aí vai algo mais explícito ainda: Salvaram os beagles do Instituto Royal. Legal! Quanta coragem, colocar-se acima de algumas leis e sujeitar-se a sérias consequências por um ideal, certo? Certo? Para muitos especialistas em pitaco,  não, porque “temos que ajudar primeiro nossos idosos, moradores de rua, crianças, pobres, deficientes e afins”. Devo admitir que ainda há muitos seres humanos que não vivem exatamente como pessoas, mas isso não significa que as outras questões (ambiente, animais) deixam de existir até que tudo esteja “bem”, “sob controle”. Somos sete bilhões! Será que é muito difícil amassar e jogar fora a hipocrisia e fazer alguma coisa também? Pelo que eu sei, palpites desmotivadores nunca salvaram o mundo.



O que acharam? Lembrem-se de que esse é um artigo de opinião, não uma verdade absoluta :)

Comentários e/ou contra-argumentos são bem-vindos. Beijos!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Folhetim - Capítulo #2: Die Another Day

      Olá, colegas de vida! Para a alegria de todos (assim espero), voltei com o segundo capítulo da enrascada de nossa já querida e amada Annie. Será que ela vai pular do prédio? Confira agora nessa postagem J Agradeço desde já a todos que sugeriram suas músicas para esta segunda parte; mesmo que ao final tenha escolhido apenas uma, tenham certeza de que todas as canções aparecerão na história em algum momento. Novamente, apreciem com moderação.

... Annie respirou fundo, engoliu o sangue que estava em sua boca e olhou para o que acreditava ser o rosto dele.


Capítulo #2 – Die another day


   Definitivamente, revólver ganha de faca, por maior que seja esta. Ainda assim, o lado mais obscuro de Annie fazia perguntas. “Quem é este homem?”, “O que ele faz aqui?”. Se ela fossem em direção à chuva gelada, nunca saberia.
Então, juntando toda sua coragem e insanidade, abaixou-se, pegou o facão e encarou a criatura perversa que agora a encarava de volta.
      - Você quer a minha vida? Então temos algo em comum. Eu me recuso a morrer hoje. Aqui. Com você.
      Nesse momento, seus pensamentos enovelaram-se e seu coração genuinamente bom ficou negro.
     Quando percebeu o que estava fazendo, já estava na metade do caminho entre a janela e o assassino. Se alguém que ouvira seus pedidos de socorro chegasse àquela hora, seria difícil explicar quem era o predador e quem era a presa. Sem hesitar, Annie desferiu um golpe certeiro no meio do rosto dele. Bem, quase certeiro, pois quando tentou fazê-lo, ele se defendeu, e o facão fez nada mais que um talho em seu braço. Ao sentir que tinha batido no osso, ela recuou enojada e apavorada.
     Ele, é claro, usou isso para recuperar sua vantagem. Assim que a ânsia de vômito que havia tomado conta dela foi embora, Annie olhou novamente para onde o agressor estava e não o encontrou. Olhando bem, ele não estava mais no quarto. Ela não podia acreditar em como tinha vacilado.
      - Apareça, seu covarde! Apareça ou eu vou te cortar em mil partes!
      Sua voz soava agressiva, mas ela estava prestes a morrer de medo.
      - O que foi, está com medo agora?
      Ela deu um passo em direção à sala.
      - Deveria ter pensado nisso antes de invadir minha casa!
      Dois passos. Três. Quatro. Já estava no meio da poça de sangue que havia deixado ali.
      - Quem eu sou não te interessa – disse ele com voz de veludo.
     Annie deu um pulo e afastou-se dele rapidamente até que suas costas tocaram a parede rachada do outro lado da sala. Olhou-o de cima a baixo. Ele tinha apagado as luzes, então ela não podia ter certeza se o conhecia ou não.
      - O que você quer, então? – Apesar de ter medo da resposta, ela tinha que perguntar.
      Ele se aproximou lenta e assustadoramente. Seus passos vacilantes assemelhavam-se de alguma forma aos de um tigre que estava prestes a cravar os dentes em uma presa diminuta e indefesa. Nesse momento, Annie percebeu que não podia oferecer resistência. Quando ele parou a menos de meio metro dela, o facão escorregou pelos dedos dela até que sua ponta tocou o chão. Surpreendentemente, ela ainda era incapaz de enxergar as feições dele.

      - Essa, - ele esticou a mão, petulante, e afastou uma mecha de cabelos do rosto dela – é a pergunta certa.

Ele tinha cheiro de Éter e mais alguma coisa que ela não pôde identificar. Alguns segundos depois, os olhos de Annie fecharam-se contra sua vontade. Ela os abriu. O assassino estava cada vez mais perto.

      - Eu...

Estava ficando muito difícil manter-se acordada.

      - Quero...

Seus joelhos falharam e ela caiu no chão. O rosto dele bloqueou a pouca luz que ela ainda conseguia ver.
    
      - Você.

      - Por quê?

Ele se levantou e deu alguns passos em direção à porta.


      - Essa... é outra pergunta errada.

- Fim do segundo capítulo - 


E aí,o que acharam? Valeu a interminável espera de vinte e quatro horas? A música usada neste capítulo foi Die Another Day,da inconfundível Madonna. Sugestão da Lica Prado, minha colega do Movimento animal.

Não se esqueçam de manifestar a opinião de vocês, seja por comentários ou inbox (sim, estou no Facebook).

Muito obrigada por lerem. Beijos!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Folhetim - Capítulo #1: Smooth Criminal

                Olá, queridos leitores (espero tê-los; falar sozinha já está me aborrecendo). Aqui está o primeiro capítulo do meu (ou devo dizer nosso?) novo folhetim. Para quem não leu minha primeira postagem no Facebook, vou explicar-lhes novamente: Trata-se de uma história dividida em capítulos curtinhos que vocês poderão e deverão ler em tempo real (postarei num intervalo de no máximo sete dias). Cada um desses capítulos – não defini quantos ainda – levará o nome de uma canção e será baseado/inspirado nela. A playlist, é claro, será definida por vocês, raios de sol! Conforme eu for postando as partes, escutarei as faixas sugeridas por vocês e escolherei as que mais se adequarem ao rumo da história, então, escolham bem!

E agora, sem mais delongas, o início do início. Apreciem com moderação J


Capítulo #1 – Smooth Criminal

               Annie estava sozinha em casa. Nada de extraordinário, certo? Pois bem, deixe-me acrescentar um ou dois detalhes: Annie estava sozinha num apartamento no primeiro andar de um prédio que não tinha cerca elétrica. Esse edifício localizava-se na parte errada da cidade. Errada? Sim, erradíssima. Não seria exagero dizer que ela encontrava-se só numa terra sem lei, num local onde mata-se e morre-se a troco de nada.
               Annie limpava a sala. Chovia forte lá fora, o que era ao mesmo tempo reconfortante e assustador. Ela andava de um lado para o outro com seu aspirador de pó remendado, cantando e dançando uma música qualquer. Aquele par de fones de ouvido que lhe era tão precioso foi o que a condenou.
               Em seu momento de pura distração e euforia, não viu nem ouviu quando um homem alto, razoavelmente forte e diabólico entrou pela janela e a golpeou na cabeça. Na verdade, ela só sabia que era um homem pela voz, pois não perdeu tempo olhando para trás quando segundos depois acordou, levantou-se o mais rápido que pôde e cambaleou em direção ao único quarto que ali havia. Escorregou uma vez no próprio sangue, mas conseguiu chegar antes de seu agressor, que por algum motivo ainda estava parado no meio da sala.
               Annie queria trancar a porta, mas não tinha chave. Arrastou a pouca mobília que tinha – sua cama e um criado-mudo – e bloqueou a abertura. Colocou a cabeça para fora da janela e gritou por ajuda com todas as forças que tinha, mas ninguém a ouviria em meio àquela tormenta. Uma pancada na porta a deixou ainda mais desesperada, mas foi o tiro que a fez pensar na possibilidade de pular a estreita janela e sujeitar-se a algumas fraturas.
               Seu tempo estava esgotando-se, o agressor só podia ser de ferro. Menos de dois minutos depois, a porta já estava escancarada, e a figura de preto avançava lentamente em sua direção.  

               Apontou a arma para sua face. Annie encolheu-se e fechou os olhos.

               Clic.


               Silêncio. O assassino estava sem balas? Annie não podia se dar ao luxo de pensar. Enquanto ele ocupava-se de sua arma, uma escolha pairou em sua mente: pular a janela ou lutar? Ela já podia ver quase nitidamente o facão que geralmente deixava atrás de sua cama, agora caído no chão. Fugir ou ficar, fugir ou ficar...? Não havia mais tempo. Annie respirou fundo, engoliu o sangue que estava em sua boca e olhou para o que acreditava ser o rosto dele.

- Fim do capítulo - 


              E aí, gostaram? Não é o meu melhor texto, mas acredito que a história vai evoluir. Para os mais distraídos, a música que escolhi foi Smooth Criminal, do Michael Jackson.
                 Não se esqueçam de comentar e compartilhar essa primeira parte da nossa história! Caso queiram falar comigo, estou no Facebook.

               Beijos!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Conhecimento guardado na gaveta

     Eu acho praticamente impossível, mas mesmo assim vou perguntar: Eu sou a única brasileira que acha inútil estudar tantas matérias escolares no ensino médio? Não faz o menor sentido. Isso acaba sendo, na verdade, uma forma de explorar e expor demasiadamente o lado menos competente de cada um. É claro que alguns assuntos em algumas disciplinas são indispensáveis se há pretensão de se viver sem sofrer golpes financeiros (ou pior) diariamente - se você tem mais de 8 anos e ainda não sabe coisas como somar ou concordar o sujeito com verbo, sua vida será bem abaixo da média.
     O que estou tentando dizer é que muitas pessoas já ficaram retidas em algum ano escolar por causa de uma ou duas matérias que nunca mais usarão na vida, passando muitas vezes por burras ou preguiçosas; quando na verdade estavam apenas sendo boas no que realmente sabem. Ainda não se convenceu? Pergunte a um médico algo sobre trigonometria. Pode ser até pergunta básica. Pergunte a um engenheiro civil quantas e quais são as principais partes de uma célula. Faça alguma pergunta a qualquer pessoa sobre algo que ele ou ela não estuda há mais de cinco anos. Em 99,9% dos casos, nenhuma das pessoas acima acertará as respostas.
     Nos EUA, por exemplo, cada um escolhe o nível que quer estudar nas matérias básicas e em que ano estudarão as optativas. Talvez seja por isso que aquele país é uma verdadeira fábrica de talentos. Todo mundo é bom no que faz porque sabe e gosta de fazer aquilo. Não faz sentido? O que estou dizendo prova-se o tempo todo na mídia. Agora, faço mais uma pergunta: Vocês realmente acham que eu vou saber alguma coisa de matérias como história e biologia depois do momento em que eu deixar a sala que eu fizer a prova do vestibular? Se vocês ainda acham que a resposta é sim, erraram feio. Por isso, não sou nem um pouco a favor dos típicos discursos politicamente corretos. Estude e explore o que sabe, aprenda o básico, decore o inútil. Ninguém ficou famoso por ser PhD em todas as áreas.

Quem concorda? Beijos!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Conto - Herança

Olá! Desculpem o tempo que tenho passado sem postar nada, minha vida anda meio corrida. Em compensação, tenho um conto muito legal para publicar. Foi realizado um concurso de contos entre o Ensino Médio da minha escola chamado "Do Olhar à Palavra", no qual os inscritos tinham que escrever um conto e tirar uma foto relacionada a ele. De 16 candidatos, peguei o segundo lugar.

Essa é a minha foto:


E esse é o meu conto:

Herança

     Era dia de festa, de multidão.
    Eu havia passado a semana toda trabalhando em aspectos materiais. Comprara um vestido vermelho – muito caro, por sinal – numa loja de confecções finas. Entre muitos outros, aquele havia me chamado a atenção justamente por causa da cor. Era mais bonito que os roxos – um deles era longo e reto, enquanto o outro tinha um corpete e descia em babados até os joelhos – de cetim e renda. Mais vistoso que o verde com alças finas, o preto curtíssimo e o alaranjado com um detalhe floral. No final, havia ficado indecisa em relação a dois: um azul-marinho e um vermelho, ambos não muito curtos, sem alças e emanando a essência da juventude. Eram perfeitos então; afinal, eu estava apenas terminando o ensino médio. Só depois de todos esses rituais teria a chance de conhecer o real significado da palavra independência. Abriria mão da segurança de morar com a família e partiria rumo ao desconhecido. Afastar-me-ia de todos os meus amigos, pessoas com as quais eu havia convivido nos últimos dez anos. De certo modo, eu sabia que não seria a primeira a passar por isso; minha irmã morava em outro estado havia mais de seis anos e ainda parecia inteira.
    Talvez, sentiria mais falta de minhas melhores amigas. Não estaríamos mais juntas todos os fins de semana, nem poderíamos sair nas tardes de domingo simplesmente para caminhar. Era assustador pensar sobre o grande impacto que aquela noite de formatura teria sobre nossas vidas, e foi com essa ideia em mente – o impacto, a mudança brusca – que me decidi pelo vestido vermelho.
    A maquiagem – que eu mesma fiz, para economizar o salário magro de uma secretária - era simples, mas forte, com sombra preta e batom vermelho. Meus cabelos - geralmente escorridos e horrendos - pendiam em cachos definidos, mas não duradouros, ao redor de meu rosto. Usava uma pulseira de ouro que ganhara no ano anterior, que combinava com os brincos e o anel discreto. Pouco antes de sair de casa, olhei-me no espelho. Estava bonita, mas de certa forma irreconhecível. De repente, senti uma estranha sensação de estar vendo alguma coincidência: irreconhecível era a palavra que definia meu futuro.
    Minha mãe já me esperava no carro, pois a fina chuva que caía naquele momento poderia arruinar toda a minha tarde de embelezamento. Durante todo o caminho, trocamos duas ou três palavras. E o fato de tê-la conhecido menos de três meses antes não ajudava muito. Ela saíra do país quando eu ainda era criança para traficar drogas ou se prostituir. Ou talvez não. Aquelas informações para mim eram dispensáveis. O que mais me doía era a doença que ela havia deixado comigo e com minha irmã. Um dos psiquiatras disse que o transtorno não é tão forte em mim, mas minha irmã podia ser considerada um caso “um pouco mais sério”. Mas o problema volta a ser meu quando passei a fingir que tomava aqueles controladores de humor.
     Eu preferiria que meu pai me levasse apenas para me livrar de momentos como aquele, a sós com minha mãe que chegara havia tão pouco tempo. Porém, meu pai nunca mais sairia de carro comigo, pois estava morto; e era por isso que minha mãe tinha vindo. Devo admitir que achava surpreendente vê-la largar tudo apenas para que eu pudesse terminar o colegial sem ter que sair da cidade. Surpreendente, sim, mas não me fazia gostar mais dela. Depois de séculos de silêncio, resolvi falar para ver se passava minha náusea por estar perto dela. Perguntei-lhe de modo hostil se iria me buscar no fim da noite ou se teria que gastar mais dinheiro com táxi.
    Mas eu não me recordo de sua resposta. Não consigo me lembrar do começo da festa; como entrei, com quem falei. Não faço ideia de que tipos de música dançamos. Lembro vagamente de um lugar escuro com uma roda de pessoas. Havia fumaça e uma estranha sensação vertiginosa. A névoa mudava de cor alternadamente, indo do branco ao vermelho, depois ao azul e verde. Bem baixinho, John cantava alguma coisa sobre a chegada do sol. Amarelo como a estrela era aquela coisa estranha que eu estava bebendo; não sabia mais o que era.
     Depois disso, há um grande vazio, e em seguida vem o momento em que eu cruzava o estacionamento às quatro horas em ponto, sem ninguém à minha volta. A festa ainda estava a todo vapor, mas algo fez com que eu saísse. Não sei se foi uma ligação ou se já tinha algo combinado. Eu estava mais que bêbada. Mal conseguia andar com aquele salto enorme. Antes de chegar à metade do percurso até a próxima calçada, desisti da luta e sentei-me no chão para desafivelar as sandálias.
    Após mais um branco, lembro-me de estar já na calçada, novamente de sandálias e usando um casaco grande demais para mim. Eu estava abraçando alguém, mas não sei quem. Quando falou, sua voz grossa saiu aveludada, fazendo com que eu me sentisse mais quente e confortável.
     Sun, sun, sun, here it comes!
     Recuei para encará-lo. Era estranho não me lembrar do rosto, apenas de um lampejo de sorriso. Andamos de mãos dadas por alguns segundos.
    As horas seguintes foram um misto de tudo o que se pode sentir. Voltei para dentro do salão acompanhada. Havia muitas pessoas dançando, mas o chão também se movia. Apesar de alguém ainda estar alegre pelo sol, o piso de madeira e os pilares dançavam algo mais parecido com uma valsa. Mais algumas taças de vinho, mais alguns momentos de amnésia.
     Ainda ouvia música saindo de algum lugar, mas estava alheia a tudo aquilo. Estávamos nus, ninguém podia nos ver ali, então tínhamos que acabar logo. Tínhamos, mas não queríamos. E eu ainda não conseguia analisar seu rosto. Ficamos ali mais alguns minutos e nos arrumamos para sair. Na metade da escada, a música parou e todos começaram a gritar. Provavelmente queriam o som de volta. As luzes estavam todas amarelas ou alaranjadas. Os pilares continuaram dançando metodicamente.
   
*  *  *

    Acordei com um holofote apontando diretamente para meus olhos. Acordei e, assim que abri os olhos, constatei que não era realmente o que pensava. Tudo bem; confesso que a possibilidade de haver um holofote evidenciando minha insignificante figura naquele instante era tolice. O que seria, então? Uma lanterna, talvez? Então, ainda era noite? A luz era tão forte que não me permitia enxergar nada além dela. Minha visão estava tão fora de foco que eu mal consegui perceber a presença de um retângulo, provavelmente metálico, emoldurando toda aquela luminosidade. Após algum tempo, reparei que o retângulo estava divido em triângulos, que por sua vez abrigavam pontos de luz fluorescente. Subitamente, a palavra triângulo voltou para o centro de meus pensamentos. Triângulo. Triângulo das bermudas; Triângulo Mineiro. Minas. Libertas Quae Sera Tamen. Meu cérebro lutava para juntar informações; formar algo que tivesse nexo. Voltei a raciocinar. Branco, luz. Paraíso. Morta? Impossível. Apaguei.
      
    Passados alguns minutos – ou horas? Dias? Anos? – acordei novamente por causa da maldita luz. Mas havia alguma diferença da última vez. Naquele momento, eu era capaz de ouvir algumas vozes ao fundo, baixinhas. Olhem, ela acordou de novo; Ei, está me ouvindo? Vá chamar o doutor. Passos. Alguém – uma pessoa totalmente estranha para mim - estava deixando o recinto. Certo. Se ela estava chamando um médico, estávamos num hospital. Hospital? Por quê? Eu sabia que provavelmente devia ter sofrido uma overdose, mas nada que não pudesse curar com um banho frio. Só Deus sabia quantas vezes havia ficado mal por ter bebido e depois estragado minha reputação. Havia parado de contar depois do meu último aniversário, quando havia batido meu recorde e ficado com dez pessoas, seis delas homens. Até que não estava tão mal. De qualquer forma, eu sempre culpava a loucura que minha mãe havia deixado de herança.
    Havia algumas máquinas ao lado da cama e eu estava tomando soro. Uma enfermeira disse que eu poderia me levantar se quisesse, e que minha mãe estivera junto comigo por muito tempo, mas tinha ido para casa tomar um banho e pegar algumas coisas para mim. Por um momento, imaginei que coisas seriam. Roupas? Um livro? Seria bom ter o que fazer depois de descobrir o que havia acontecido. Respirei fundo – o que me causou dor e arrependimento – e falei:
     - Minha irmã não está?
    - Não. – A enfermeira parecia estar com pressa, pois saiu do quarto sem falar mais nada. Atrás dela, outras duas figuras vestidas de verde-claro seguiram depressa.
Levantei-me com alguma dificuldade e caminhei até um espelho perto de uma mesinha, percebendo que havia acontecido mais naquela noite do que eu me lembrava: Além da constante dificuldade de respirar, havia hematomas por todo o meu pescoço e eu tinha levado pontos na testa e no queixo. Entrei no banheiro e ergui a camisola. Meu corpo inteiro estava roxo e esfolado; parecia que eu tinha sido espancada. Dei meia volta e deitei-me novamente. Ouvia uma voz masculina resmungando em algum lugar. Ao olhar para o lado, vi uma pequena televisão ligada, na qual um repórter de terno cinza falava sobre um incêndio em algum lugar. Como não estava a fim de ouvir, apertei o botão mudo.
Alguns minutos depois, minha mãe voltou. Ficou cerca de meia hora dizendo que, apesar do longo período de afastamento, gostava muito de mim e ficara apavorada com os acontecimentos, por isso planejava uma viagem de férias para recuperar o tempo perdido. Mais tarde, trouxeram-me uma comida totalmente sem sal que eu tive de comer. Sofri com os hematomas e cortes ao tomar banho, e constatei que seja lá o que for que usaram em mim, tinha perdido o efeito, e eu sabia que não ia ser fácil. Minha mãe dormiu antes de eu sequer estar com sono, e só me restou vagar o olhar pelas paredes do quarto até que a insônia se fosse.
Em meu sonho, eu flutuava em um mar de rostos, alguns conhecidos e outros não. Cada um deles despertava alguma emoção, positiva ou negativa. Acordei em algum momento da madrugada, sozinha e sem um pingo de vontade de voltar a dormir. Sentia uma vontade estranha, um sentimento de pesar. Não sei ao certo, mas tinha a impressão de ter deixado mais coisa passar, pois parecia que estava naquele hospital há dias e que tinha esquecido todos eles. Queria - de alguma forma - por um fim em tudo, principalmente naquele aperto no peito. Era como se alguém tivesse aberto um buraco bem onde costumava ficar meu coração e colocado ali um bloco de gelo. Era uma dor tamanha que chegava a ser física. Dormi novamente. Não sei a razão daquela sensação, mas tinha algo a ver com uma notícia muito ruim, que eu não consegui lembrar.
As horas – ou dias – seguintes são apenas uma tela preta. O próximo momento que ainda reside em minha mente começa com a sensação de liberdade, pois não havia teto sobre minha cabeça: Eu estava numa cobertura. E chorava ruidosamente.
Ventava muito lá em cima, e eu podia ver grande parte da cidade. Ameaçava chover, mas eu não me apressei. Ninguém sabia que eu estava ali, então me sentei em um dos cantos da laje e passei a olhar as estrelas. Do céu, desci meu olhar para minhas roupas. Eu estava usando jeans e camiseta, ícones da casualidade. Havia uma caneta e um papel em branco no chão ao meu lado. Escrevi qualquer coisa e o dobrei, guardando num dos bolsos. Senti que precisava fazer logo o que planejava. “Se me impedirem desta vez, eu não teria outra chance”. Esse era meu pensamento.
Caminhei em direção à ponta do prédio e subi em um tipo de mureta que havia na borda. Eu podia sentir o frescor das primeiras gotas da leve chuva noturna. Quando abri os braços, as pessoas que estavam lá em baixo notaram minha presença e começaram a gritar, e duas entraram no prédio. Mas elas não conseguiriam. Eu já estava morta. Virei-me de costas para todos eles e me deixei cair. Durante alguns segundos, meus cabelos foram bagunçados pelo vento, depois tudo escureceu.
Abri novamente os olhos. Uma multidão se formara à minha volta, todos desesperados. Fui perdendo os sentidos com vagarosidade semelhante ao fim de uma canção ruim. Primeiro o tato, quando o chão áspero e frio passou a ser nada. Depois o olfato e o paladar, quando deixei de sentir cheiro e gosto de sangue. John havia voltado a falar do sol, mas depois de poucos segundos deixei de ouvi-lo também. As luzes noturnas foram se apagando nos cantos de minha visão até que tudo ficou negro. Parei de respirar.

                                                                                              
E aí, digno? Espero que tenham gostado! 

Beijos!

domingo, 13 de maio de 2012

Aventura

Proposta: crônica narrativa ou reflexiva tendo como título uma das palavras a seguir: Ventania, amizade, solidão, liberdade, aventura, solidariedade.

Aventura

     Quando você percebe que precisa correr, já passa da hora de voar. O quê? Não, mais rápido! Não importa o "porquê", o "de onde" e muito menos o "para onde". A corrida em si já é a aventura daquele instante. O que diferencia um maratonista competindo de um estudante prestes a perder o ônibus? Os olhos de quem vê.
      Pode-se correr por medo, ansiedade, fúria, pressa ou simplesmente pela graça do movimento. Pé direito e pé esquerdo, com um curto intervalo suspenso no ar. O ser humano corre para alcançar aquilo que vai depressa. E se não consegue, é por não poder voar.


Curto, mas interessante?

Beijos!